Ainda é necessário aumentar a produção para atender a demanda interna
O 9º Fórum do Trigo tratou sobre o cultivo e o comércio de um dos principais cereais de inverno, assim como as políticas e projeções para o cenário nacional e internacional. O evento teve promoção da Cotrijal e Seapi (Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação), por meio da Câmara Setorial do Trigo.
Na abertura oficial, o vice-presidente da Cotrijal, Enio Schroeder, destacou que por muito tempo o trigo foi uma das principais culturas do Rio Grande do Sul, mesmo diante das adversidades do clima. “Em condições normais de tempo, temos boa safra. No caso contrário, precisamos buscar ajuda”, pondera.
O titular da Seapi, Giovane Feltes, lembrou das dificuldades na produção do cereal no Estado e destacou a importância para os produtores gaúchos. “O trigo viveu momentos desafiadores, mas teve dois anos de rentabilidade. Neste ano, embora com ampliação de 12% de área plantada, não conseguimos cumprir a demanda”, relata. Porém, acredita na superação da questão. “O El Niño e La Niña influenciam na plantação, mas que possamos mitigar esse problema. A chuva trouxe doenças, baixou a qualidade. Precisamos ter resiliência para encontrar novos caminhos.”
Política argentina e os impactos no Brasil
O especialista em trigo da Safras & Mercado, Elcio Bento, levou para o debate o painel intitulado “A nova política do trigo na Argentina e os impactos no Brasil”. Maior fornecedor de trigo para o Brasil, a Argentina vive um momento de novas tratativas e políticas pelo governo do presidente Javier Milei.
“O Brasil importa mais da metade de seu consumo e, desse volume, em condições normais, a Argentina fornece mais de 80%. Sendo assim, os preços no Brasil são formados pela paridade de importação em relação ao país vizinho. Ou seja, os preços que os moinhos pagam pelo produto importado da Argentina determinam os que os produtores nacionais receberão”, afirma.
Segundo Bento, a Casa Rosada tem como plano principal zerar as retenciones (os impostos sobre exportações agrícolas). Isso aumentaria a rentabilidade do produtor. Mas, Bento acredita que pelo contexto econômico e fiscal atual no país, Milei talvez não cumpra as promessas: “Com a situação fiscal, não foi possível abrir mão dessa arrecadação. Pelo contrário, existe a possibilidade de elevação de 12% para 15%.”
Diversidade produtiva
Na segunda parte do evento, o presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), Rogério Tondo, apresentou a “Visão da Abitrigo sobre o mercado nacional e internacional”, destacando a importância da produção do cereal no Brasil, enfatizando sua diversidade de mercados e clientes em todo o país.
Segundo dados da entidade, a produção de trigo é direcionada principalmente para pão francês (42,6%), massas (12,5%), biscoitos (10%) e uso doméstico (9,6%). O setor conta com 108 empresas e 144 plantas moageiras, com uma moagem total de mais de 12 milhões de toneladas em 2023, concentrada especialmente nas regiões Norte e Nordeste (26%) e no Rio Grande do Sul (15%).
Produção expressiva ainda é insuficiente
A indústria gerou 30 mil empregos diretos e movimentou R$ 33 bilhões em vendas no último ano. “Além dos empregos indiretos em transportes, armazenamento, laboratórios, serviços terceirizados e fornecedores de embalagens e insumos”, completa.
Apesar da produção de oito mil toneladas em 2023, a demanda interna de 12,7 mil toneladas resultou na importação de mais de sete mil toneladas de trigo de diferentes países, a maior parte vinda da Argentina. A expectativa é ultrapassar as dez mil toneladas em 2024.