Produtores da agricultura familiar se aperfeiçoam a cada ano

Expositores investem nos negócios para maior competitividade no mercado

O Pavilhão da Agricultura Familiar é um passeio à parte dentro da Expodireto Cotrijal. Foram 226 expositores em 191 estandes com uma infinidade de produtos entre alimentos, bebidas, artesanato e flores, nesta última edição. A movimentação nos corredores é intensa a qualquer hora do dia para conferir o que trouxeram os empreendedores de 129 municípios gaúchos. Se para o visitante é um atrativo para degustação e compras, para os trabalhadores da agricultura familiar é uma oportunidade de vendas, mas principalmente de alavancar o negócio.

O assessor de Política Agrícola e Agroindústria Familiar da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Jocimar Rabaioli, relata que é visível a evolução dos empreendimentos que já vieram em outras edições da Expodireto em comparação aos estreantes. “Participar de um evento deste porte os impulsiona a aperfeiçoar o produto com melhorias na qualidade, na embalagem e até na gestão do próprio negócio, tornando-os cada vez mais profissionais e competitivos”, analisa o organizador.

Nesta edição, 20 empreendimentos ficaram na fila de espera, mas existe um projeto para solucionar esta demanda com um outro pavilhão específico para artesanato e flores. Isso pode já ocorrer na próxima Expodireto, em 2021. “A cada ano identificamos as necessidades e procuramos resolvê-las. A fila de espera não é desta edição. Portanto, estamos trabalhando para abrir mais espaços o quanto antes”, projeta Rabaioli.

A grande procura é estimulada pelos números que são animadores. O faturamento nos negócios da agricultura familiar em 2020 foi de R$ 1.169.814,95, 11% a mais em relação aos R$ 1.052.578,00 no ano anterior. O pavilhão é coordenado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, em parceria com a conveniada Emater (Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural), Fetag e Fetraf (Federação dos Agricultores na Agricultura Familiar no Rio Grande do Sul).

Pimentas em mais de 100 versões
Prova do progresso no negócio é a agroindústria Sabor da Colônia, de Turuçu, RS. A empresa de produtos à base de pimenta começou com uma pequena produção de geleias em 2008, sendo pioneira na região. Hoje também faz temperos, conservas, condimentos, molhos e uma variedade que ultrapassa 100 produtos feitos com 12 tipos de pimentas.

Com a participação em feiras como a Expodireto, foram avaliando o mercado e investindo cada vez mais em melhorias. Uma das novidades, são as embalagens dos temperos desidratados, que agora vêm com moedor. “Como estamos há um bom tempo no ramo, não podemos parar de inovar”, avalia o produtor rural Charles Kovalski, 29 anos.

As preocupações com melhorias vão além da mercadoria. A marca caprichou na decoração do estande que chama atenção de longe. “Aproveitei a safra da pimenta para colocá-las in natura para enfeitar. Nem era a intenção, mas estamos vendendo tudo, até parte da nossa decoração”, comemora a sócia Vera Tuchtenhagen, 34 anos.

Vitrine para os doces de Pantano Grande
A feira é vista como vitrine e uma ótima oportunidade de crescimento para Terezinha Domareska, 47 anos, proprietária da Agroindústria Tebeck, de Pantano Grande, RS. É a segunda vez que ela participa levando geleias, chimias, frutas cristalizadas e compotas para o pavilhão. “Notei que é importante ter constância na participação. Alguns que visitaram meu estande no ano passado me procuraram nesta edição novamente. Isso é ótimo para trocar contatos, fazer parcerias e seguir com as vendas durante o ano, mesmo depois que a feira acaba”, relata.

Os carros-chefes da Tebeck são as compotas com frutas nativas como araçá, pitanga e butiá, além da linha sem açúcar, em que a própria frutose é utilizada para adoçar.

O envolvimento afetivo de Terezinha com o próprio negócio é nítido no preparo e apresentação dos doces que vêm de receita de família. A produtora rural se emociona ao contar que começou a atividade aos 10 anos de idade ajudando a mãe, mas não imaginava trabalhar com isso. Já adulta, há mais de 20 anos, adquiriu um sítio para finais de semana de lazer com a família e lá plantou muitas árvores frutíferas. “A cada colheita não dávamos conta de consumir tudo e comecei a fazer doces para presentear amigos. Até que em 2015 montei a minha agroindústria e aqui estou”, orgulha-se.

Artesanato com produto patenteado
As ferramentas diferenciadas e os objetos decorativos com movimento e interatividade se destacam no estande da Defer Artesanato, de Vale Verde, RS. Patrícia Gromiskis, 42 anos e Demócrito Ferreira, 49 anos, trabalham há 20 anos com madeira, mas sempre com o olhar empresarial no futuro. Além de peças decorativas – muitas sendo finalizadas na própria feira para o público conferir – o casal criou uma ferramenta inovadora e patenteou. A enxada desenraizadora é muito mais leve que a convencional, vira a terra e corta a raiz ao mesmo tempo. “Ela é extremamente funcional e faz tanto sucesso que já vendemos quase todas nos primeiros dias de feira”, diz a artesã. A ideia ganhou o reconhecimento do Governo Federal e tem o selo do Ministério da Agricultura.

Outro diferencial no trabalho, é que todos os produtos são feitos em madeira pura, sem misturar outros materiais como o MDF, o que garante mais durabilidade. “Nós mesmos que cortamos as toras e trazemos a madeira do mato. É totalmente rural e artesanal”, ressalta Ferreira.

Compras em família
Participar da Expodireto e não passar pelo Pavilhão da Agricultura Familiar é o mesmo que não ter ido à Feira. Essa definição é da dona de casa Édis Daghetti, 50 anos, de Marau, RS, que foi conferir o pavilhão da Agricultura Familiar. “Viemos a Não-Me-Toque a negócios e não poderíamos deixar de passar por aqui. É minha primeira vez e é uma das feiras mais organizadas e bonitas que já vi”. Ela foi acompanhada do marido, Oclair Daghetti, 52 anos, músico; e da filha, Amanda Daghetti, 18 anos, estudante. “Ficamos impressionados com a variedade e a qualidade dos produtos”, comentou Oclair, que havia comprado produtos como erva mate, queijos, doces e embutidos.

Música e bom humor
Pelos corredores do pavilhão também foi possível ouvir de longe a animação do conjunto Os Difíceis. De uma brincadeira, três irmãos de Santa Bárbara, RS e um amigo de Saldanha Marinho, RS, resolveram construir instrumentos improvisados e nada convencionais para tocar em reuniões de família e amigos. A ideia foi levada até à feira e a música animava os corredores da agricultura familiar. “É difícil de nos encontrar pra ensaiar e difícil de nos aguentar”, brinca justificando o nome do grupo, Celso Picinini, responsável pela gaita. Os Difíceis também tem como integrantes os outros irmãos Gilson Picinini (sax frigideira) e Nilzo Picinini (violão), além do amigo Nelson José Pertile (sax máquina).

Diversidade

Terezinha Graminho de Campos, 48 anos e João Pedro Schneider, 55 anos, comemoram as vendas. Gerânios são as flores mais procuradas pela durabilidade. O casal conta que a presença na feira sempre reflete em bons negócios durante o ano todo. “Muitos visitantes daqui vão até a minha estufa ou fazem encomendas de diversas cidades”, diz o agricultor de Quinze de Novembro (RS).

O estande dos Produtos Bergamaschi fez sucesso com salames, copa e outros embutidos. Segundo o produtor de Fagundes Varela (RS), Jair Bergamaschi, 48 anos, o segredo são os temperos naturais que ele usa há 18 anos em seus produtos.


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