Munidos de dados, pesquisadores mostram que a pecuária não é a grande vilã ambiental e que usar técnicas sustentáveis pode trazer muitas vantagens.
A pecuária está longe de ser uma vilã ambiental. Pelo contrário, é um dos setores com maior potencial de redução na emissão de gases causadores do efeito estufa. E o melhor: além de contribuir com o meio ambiente, o produtor que cria seu gado de forma sustentável ainda pode aumentar seus lucros. Basta adotar um dos sistemas apresentados durante o 14º Fórum Florestal do Rio Grande do Sul, realizado no quarto dia da Expodireto Cotrijal.
Por videoconferência, três pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desmentiram a acusação de que a pecuária seja a atividade que mais emite gases de efeito estufa. Os dados apontam que a emissão de gás metano (CH4) pela eructação do gado é menor em relação a outras atividades.
A pesquisadora da Embrapa Florestas Josiléia Zanatta explicou que aproximadamente 60% das emissões de GEE são de dióxido de carbono (CO2), 27% são de gás metano (CH4) e 12%, de óxido nitroso (N2O). Esses números são bem diferentes dos dados do agronegócio. “Quando fazemos um retrato apenas do setor agropecuário, temos que ele é responsável por aproximadamente 33% das emissões totais de gases de efeito estufa no Brasil e o cenário entre os gases é bastante diferente. Temos o metano dominando as emissões com mais de 60%, seguido pelo óxido nitroso e, em último, as emissões de CO2”, explica a pesquisadora da Embrapa Florestas.
O resultado é que, além de não ser o setor que mais emite gases, o agronegócio também tem um potencial de reduzir esse impacto mais rapidamente, pois o metano dura de 10 a 12 anos na atmosfera. Para se ter uma ideia, a duração do CO2, emitido em mais volume por outras atividades, é de cerca de 100 anos.
Sustentabilidade e mais lucros
A pesquisadora Embrapa Pecuária Sul Márcia Cristina Teixeira da Silveira abordou manejos mais eficientes e sustentáveis de animal a pasto. Ela mostrou que a sustentabilidade e o lucro podem andar de mãos dadas. "Se tivermos um olhar realmente holístico em relação à produção animal a pasto, conseguimos trazer benefícios para a produção animal e também para o meio ambiente”, afirma a cientista.
Segundo Márcia, práticas ultrapassadas e perigosas não apenas causam danos ao meio ambiente, como também prejudicam a própria produção. ”Uma pecuária onde áreas são desmatadas, onde é utilizado fogo para abertura de novas áreas, e que tenhamos uma produção de animal a pasto numa condição de solo descoberto não se torna produtiva, e muito menos sustentável”, explica.
Para estimular a adoção de práticas mais sustentáveis, a Embrapa trabalha com duas marcas conceito: a Carne Carbono Neutro (CCN), que tem como objetivo neutralizar a emissão de gás metano nas pastagens com a plantação de árvores, e a Carne Baixo Carbono (CBC), que busca mitigar a emissão de metano com foco no solo.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)
A CCN foi o foco da palestra do pesquisador de sistemas agrossilvipastoris da Embrapa Vanderley Porfírio-da-Silva. Ele apresentou as vantagens desse sistema , uma opção de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) que usa árvores para neutralizar a emissão de gases na bovinocultura. “O sistema silvipastoril utiliza muitos dos atributos de uma floresta, cria diversidade em seu ambiente, produz serviços ambientais e agrega valor aos produtos, protegendo o negócio, inclusive, de possíveis adversidades do mercado”, explica Porfírio-da-Silva em sua explanação.
No sistema de ILPF, o lucro do produtor vai além da pecuária. As árvores podem ser usadas para a obtenção de madeira ou o cultivo de frutas, e ainda baixam a temperatura do solo, melhorando as condições do pasto e propiciando mais conforto térmico ao gado.
Combate a fake news
O evento foi mediado pela presidente da Associação Brasileira de Criadores de Devon e Bravon, Simone Bianchini. Ao final, ela pediu que Porfírio-da-Silva respondesse às fake news que apontam a pecuária como a maior emissora de gases de efeito estufa, superando inclusive os veículos em combustão. “Não é verdade”, responde o pesquisador. “Há uma ideologização desse assunto. É certo que se nós continuássemos com a agropecuária como fazíamos na metade do século passado, aí sim, teríamos o metano. Mas o que estamos trazendo é que é possível dar resposta a essas fake news com bases científicas”, acrescenta.
Essa parte do evento foi a mais importante para o pecuarista Paulo Cesar Dias, que cria gado em São José do Cerrito, na Serra de Santa Catarina. O produtor destaca a importância de desmentir falsas acusações contra o setor. “Estamos sendo bombardeados por várias ilações e fake news criticando o agronegócio e principalmente a pecuária com relação à questão climática. Vejo que eventos como esse têm que continuar acontecendo a fim de esclarecer até o próprio pecuarista sobre a necessidade de investir mais em tecnologias e programas relacionados à utilização do solo e às pastagens”, afirmou.
Mesa de autoridades
A mesa de autoridades foi composta pelo analista agropecuário e florestal da Secretaria da Agricultura, Róger Strauss; o superintendente de Produção Agropecuária da Cotrijal, Gelson Melo de Lima, e o diretor técnico da Emater, Alencar Rugeri. O chefe da Embrapa Florestas, Erich Gomes Schaitza, participou por videoconferência.
Vantagens da Integração