Das 10 milhões de toneladas de trigo consumidas no Brasil, 2 milhões são produzidas no Rio Grande do Sul, segundo a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS). Ainda assim, a cultura não tem animado os produtores pelo estigma de baixa rentabilidade. Para derrubar essa ideia, o 12o Fórum do Trigo tratou do tema apresentando estudos que provam o contrário. O vice-presidente da Expodireto Cotrijal, Ênio Schroeder, afirmou que plantar trigo pode ser viável economicamente. “Vai além de conservação do solo. O Rio Grande do Sul tem tudo para tê-lo como a cultura mais importante”, acredita.
Conforme especialistas, o cálculo deve ser feito ao longo de anos e não apenas avaliando uma safra negativa economicamente. As instituições vêm incentivando o plantio do cereal, mas não a qualquer custo. Devem ser considerados diversos fatores para que seja vantajoso ao produtor rural. Para o coordenador da Câmara Setorial do Trigo, Tarcísio Minetto, no cereal reside uma das soluções estratégicas para a agricultura no Estado pela qualidade apresentada. “O potencial indica que os produtores gaúchos podem aumentar a lavoura nos próximos anos, graças à genética das variedades e ao manejo da cultura”.
O Governo do Estado tem tomado iniciativas para incentivar o plantio. Conforme o secretário da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Covatti Filho, ressaltou a importância do evento para tomada de decisões. “Estamos atentos às reivindicações de toda a cadeia produtiva. O que for debatido aqui, certamente será levado em consideração nas ações do governo.”
Estudos apontam bons resultados
O pesquisador em Economia Rural da Fundação ABC Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário, Cláudio Kapp Júnior, apresentou o estudo “25 safras da cultura do trigo: metodologia de custeio e resultado financeiro do período.” Durante 25 anos houve o monitoramento de fazendas, no Paraná e em São Paulo, em uma área total de 422 mil hectares, analisando pontos como diagnósticos de solo, custos de produção, fluxo de caixa e lucro.
A conclusão foi de cerca de R$ 230,00 de lucro por hectare, determinando a cultura como uma boa opção de inverno. “Os cálculos mostraram que a questão da baixa rentabilidade é mais mito do que verdade. O trigo é uma opção a mais no sistema de produção que não deve ser descartada de imediato”, conclui Júnior.
Contribuição nas contas da propriedade
A longevidade no cultivo do trigo pode ser uma forte aliada no custeio das despesas. Foi o que apresentou o coordenador da assessoria do Grupo Agros, Carlos André Fiorin, na palestra “A contribuição do trigo no resultado da propriedade.”
Interação de culturas
Para o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, o cereal é plantado principalmente para conservação do solo. Mas há um esforço para que o produtor varie a cultura, que atualmente é focada na soja, e enxergue o trigo além disso: como um pilar importante na economia e produto da indústria alimentícia. “Se tem apenas uma cultura sustentando a propriedade, independente do clima, nem sempre é rentável. Por isso é importante a interação do trigo com a soja para uma sustentação econômica.”
Pires ainda enfatizou a importância de plantar na hora certa para extrair todo o potencial da lavoura. E projetou um cenário otimista. “Desde 2003 não temos uma relação tão positiva entre custo de produção e preço de mercado do trigo. O ano de 2020 é favorável para quem plantou em anos anteriores.”
O consultor levantou questões que devem ser levadas em conta para definir se será vantajoso, como o volume de capacidade de produção e questões técnicas. Além de obrigatoriamente o produtor se utilizar de ferramentas para se resguardar do prejuízo, como o seguro o agrícola. “Temos que incentivar, mas dentro do limite. Para isso, é preciso calcular quanto custa a lavoura para fazer do cultivo um acréscimo de receita para pagar as contas da propriedade”, explica.
Conforme Fiorin, se o produtor alcançar uma média mínima de 60 sacos por hectare, já é válido. “Vendendo a R$ 44,00 o saco, sobra R$ 1.000,00 para auxiliar nos custos de outros setores da fazenda.” Os valores finais, apesar de positivos, não são expressivos. Mas, segundo o palestrante, na média dos anos dá para ter lucro.
Também foram ressaltados os já conhecidos benefícios, como controle de ervas daninhas, melhorias físicas e químicas do solo, sendo que a adubação do trigo melhora a área e já agrega para as próximas culturas, tirando um pouco dos custos do plantio de soja, por exemplo.
Público começa a ver vantagens
O casal de produtores rurais de São Luiz Gonzaga, RS, Sérgio Moura, 54 anos, e Gislaine Foletto, 54 anos, fizeram questão de acompanhar o fórum, já que vão plantar trigo pela primeira vez. A intenção é preparar o solo, em uma área de 70 hectares, para o próximo plantio de soja. “Vai ajudar a abater as despesas da propriedade e também diminuir os custos que a soja carrega o ano inteiro”, comenta Moura.
De olho no mercado externo, o analista comercial de uma exportadora de grãos, Igor Sartori, 23 anos, avalia que o trigo está valendo a pena, mas com ressalvas. “O produtor vai ter liquidez e viabilidade, mas somente se souber encaixá-lo no sistema de produção”. Para Sartori, o cenário é otimista com uma boa margem de lucro nas exportações.