Os prejuízos da estiagem são severos, mas como é possível reduzir esses impactos? A resposta está em conservar o solo sempre, independente de fatores climáticos, mantendo a água onde ela cai e fazendo rotação de culturas, o já conhecido Plantio Direto. Esta questão foi discutida pelo 5o Fórum Estadual de Conservação do Solo e da Água, que lotou o Auditório Central da Expodireto Cotrijal.
O secretário estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Covatti Filho, lamentou pelas dificuldades que o setor tem vivido com a estiagem. “Nada melhor do que aproveitar este momento que chama a atenção para a melhor conservação do solo e, principalmente o melhor uso da água.”
Já o presidente da Emater/RS, Geraldo Sandri, falou das perdas, provocadas pela estiagem, na safra 2019/2020. “Nós precisamos trabalhar com medidas estruturantes, como é o caso do Programa Pró-Milho da Secretaria da Agricultura, que abrange toda a cadeia produtiva do milho”, elogiou.
O caminho é conservar os benefícios naturais do solo
Na palestra “Correção da acidez do solo em áreas de Plantio Direto”, a professora da UFRGS, Amanda Posselt Martins falou do manejo da calagem. Ela explica que este sistema é baseado numa série de práticas de manejo conservacionista, que visam um mínimo revolvimento do solo, com alto aporte de resíduo das culturas, mantendo palhada e cobertura permanente do solo com diversidade de culturas. Mas conforme a professora, a maioria dos produtores só adota uma dessas práticas, que é basicamente não mexer o solo. “Muitos produtores deixam o solo passar o inverno sem plantio, enquanto poderiam estar se beneficiando economicamente de forma direta, com outra cultura, e ainda contribuindo para o meio ambiente.”
Já o pesquisador da Embrapa Trigo, Giovani Stefane Fae, na palestra chamada “Macroporosidade biogênica: impacto na produtividade das culturas” foi contundente, dizendo que o segredo para altas produtividades é o solo estruturado, onde as raízes da cultura sucessora têm condições de crescer. Isso é criado biologicamente tanto com culturas gramíneas anuais de verão, principalmente, como estímulo, à biologia do solo. “Nós precisamos de palha, a palha é o telhado, assim como para nós, porque o solo é um ser vivo. E a raiz é o alimento, a água que a gente toma todos os dias é que nos mantém sadios para poder sempre render, é a mesma coisa com as culturas. A rentabilidade do agro passa por um solo bem estruturado, que é criado biologicamente”, esclarece.
“Produzir conservando” foi a última palestra do evento, ministrada por Fernanda Falcão, engenheira agrônoma, que também é produtora rural e gerente técnica da empresa Sementes Falcão. Ela conta que, na fazenda da sua família, o plantio direto foi iniciado em 1983 e desde então as áreas nunca ficaram em pousio. Além disso, na década de 1990 a família investiu na sistematização da propriedade, a partir de um software especializado. “Nós passamos de um sistema base larga em nível para o plantio direto, onde os terraços são muito mais espaçados e você consegue trabalhar em nível, tanto no plantio, colheita e pulverização, fazendo uma semeadura em contorno, aproveitando 100% da área, mantendo os níveis de fertilidade do solo, principalmente da camada superficial”, detalha.
Os benefícios do Sistema Integrado de Produção
A Fazenda Librelotto já virou referência do sistema que alia lavoura e pecuária na mesma propriedade, aproveitando toda sua área. O proprietário Ivonei Librelotto começou a utilizar esse sistema há 12 anos e colhe os frutos da escolha. A fazenda tem pouco mais de 100 hectares e produz milho, trigo, soja e bovinos de corte. Ele explica que o trigo sempre foi de duplo propósito. “Ele é um pilar do sistema porque se em determinado momento a gente percebe que produzir carne é mais lucrativo do que grão, ele vira pasto e vice-versa. Quanto à fertilidade física, química e biológica, abordada na palestra, com este sistema nós conseguimos, às vezes, ter um inverno mais lucrativo do que o verão.” Segundo o produtor, a média de produção de soja, na propriedade, nos últimos 10 anos é de 75 sacas por hectare. “Eu considero que o Sistema Integrado de Produção é a grande revolução, porque preserva o solo, gera lucro, gera renda e fixa o homem no campo, porque os animais precisam de pessoas para cuidar deles. Além disso, todo o alimento dos animais volta para a terra em forma de esterco, diminuindo custos com adubo”, salienta Librelotto.