Diversificação, o segredo do sucesso

Fórum do Milho 2022 debateu formas de lidar com a instabilidade climática, de produção e da balança comercial.

Aumentar a produtividade do milho e trabalhar na busca da autossuficiência no Estado, que necessita atualmente de mais de 1 milhão de toneladas para suprir a demanda interna, foi o foco do 13º Fórum do Milho. Palestrantes realizaram análise técnica e prospecção econômica no evento realizado no primeiro dia da Expodireto Cotrijal.

Essa instabilidade da cultura do milho tem forte ligação com a alta dependência da chuva no período adequado. E a escolha correta da data da semeadura torna-se primordial para evitar quebras. Enquanto isso, a indústria de proteína animal segue crescendo e criando uma demanda escalonada pelo grão, garantindo a alta dos preços do grão. Já não bastasse o agricultor precisar ser perseverante, agora ele necessita compreender a balança comercial descontrolada pelo conflito armado do leste europeu.

Em meio a essa insegurança, o agrônomo Bernardo Tissot ofereceu aos participantes um direcionamento. Segundo ele, o produtor que realizar uma melhor distribuição dentro do sistema de sua propriedade, tem maiores chances de sucesso. Essa diversificação de culturas, além de ser positiva para o meio ambiente traz estabilidade financeira ao produtor, como acrescentou o doutor em Ciência do Solo, Tiago Hörbe. Este esclareceu que ao inserir uma cultura subsequente ao milho, é possível obter outra fonte econômica antes da chegada do inverno, e assim suprir os custos de produção.

Os palestrantes da área agronômica explicaram que o aumento da produtividade necessita da máxima otimização dos recursos. Iniciando pela pela construção do solo, seguida pelo aumento do potencial produtivo, para que a irrigação seja utilizada apenas em um contexto de manejo correto. A água da chuva ou dos pivôs precisa ser contida no solo, para um bom enraizamento, boa saúde foliar e produção de espigas homogêneas, mesmo em períodos de estiagem.

Enquanto na visão de Dirceu Thomasio, representante comercial da JF Corretora de Cereais, devido a alta demanda e baixa oferta, é crucial evitar o escoamento desenfreado do grão. A principal preocupação do empresário é o desabastecimento da indústria nacional. Já que, a alta dos preços em razão das quebras significativas e da instabilidade política mundial, incentivaram a exportação.

A importância do milho no sistema de produção

Em sua palestra, Bernardo Tissot que também é professor do INCIA (Instituto de Ciências Agronômicas) listou inúmeros motivos para a inserção do milho no sistema de rotação de culturas. O principal é o aumento da produtividade, somado a diminuição do ataque por fungos, a proliferação de plantas daninhas e insetos invasores. Sem esquecer a importância da palhada, que oferece a estrutura perfeita para o brotamento da soja e do trigo.

A rotação de leguminosas com o milho diminui o uso de fertilizantes, pois cultivares de soja, por exemplo, deixam a terra rica em NPK, aumentando também a produtividade do milho. Em relação ao manejo de pragas, é essencial que o agricultor conheça as pragas que atacam a lavoura e saiba escolher a cultura de sucessão que produza resíduos que evite a infestação na outra. “Quando o milho é usado antecedendo a soja é possível zerar a infestação de Tamanduá da soja”, exemplificou o agrônomo. A ervilhaca e a aveia são boas escolhas para reduzir a proliferação de plantas daninhas. Mas a rotatividade de canola, milho e soja em sequência oferece maior valor comercial.

Sobre o manejo de água, o professor explicou que o terraceamento segura 20% a mais no solo, pois realiza melhor distribuição. Nesse caso, a água permanece na raiz por 50% mais tempo.

Tissot explicou que o agricultor não pode controlar o volume de chuvas, mas tem condições de criar um solo de alta absorção. Essa infiltração também é essencial para a aplicação de fertilizante e adubo. O agrônomo definiu que um solo de qualidade possui alta capacidade de infiltração, possibilitando que a chuva penetre e se mantenha a umidade nas raízes por mais tempo.

Lavouras de milho de alta estabilidade:como construir?

Mas a seca não deve ser a única culpada pelas grandes perdas, segundo Tiago Hörbe, doutor em Ciência do Solo. O pesquisador da CCGL apontou que dentre as lacunas de rendimento, o manejo e a genética juntos têm uma importância de 52% frente a 48% relacionado ao clima. Como solução ele defendeu a importância de otimizar a área de cultivo, ajustar híbridos em função do ambiente e construir um solo de melhor qualidade.

Para o pesquisador, a cultura do milho tem grande oscilação essencialmente no período de pendoamento, quando a planta necessita de maior quantidade de água. O pesquisador explica que nos 14 dias de ocorrência da polinização, o milho não tolera altas temperaturas e ausência de chuvas. A solução é oportunizar que as raízes busquem água em áreas mais profundas.

Apostar em soluções agronômicas pode ser muito mais interessante do que apenas falar em irrigação. “Irrigação é um passo após a construção do solo, no momento em que o solo não está equilibrado, estruturado, a irrigação ajuda, mas não potencializa todo o investimento”, esclarece Hörbe.

Entretanto, a principal forma de minimizar perdas é corrigir os erros na semeadura, para garantir maior uniformidade na espiga. A sugestão de Hörbe é realizar mais de uma data de plantio, diferenciando a data da semeadura possibilita que as plantas de uma mesma lavoura enfrentem situações climáticas diferentes.

Do ponto de vista econômico, Hörbe defende que a propriedade rural deve ser vista como uma empresa. A diversificação de culturas, além de ser sustentável, possibilita financiar os custos de produção."Tendo duas culturas, em caso de ter uma frustração de safra do milho você pode contar com uma segunda safra de soja safrinha, feijão, girassol, uma pecuária ou ainda milho para silagem”, explicou o palestrante.

Perspectivas do mercado para o milho safra 21/22

A administração rural também demanda compreender que o preço de venda do grão é comandado pela variação do mercado consumidor. Segundo Dirceu Thomasio, representante comercial da JF Corretora de Cereais, 63% da produção mundial de milho é destinada para alimentação animal e 37% é processada para uso em alimentos, sementes e biocombustíveis. No Brasil, 70% da produção é consumida pela indústria nacional, principalmente de proteína animal, e há uma projeção de aumento de consumo de 2% ao ano. O Rio Grande do Sul, apesar de produtor de milho, tem um déficit anual de 3.8 mi/ton. Isto é, consome muito mais do que pode produzir. “Nós temos potencial para consumir todo o milho que for produzido”, apontou Thomasio.

Com a quebra da safra do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, a oferta de milho brasileiro ficou muito reduzida e a nossa indústria necessitou importar muito. Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também enfrentam problemas e estão diminuindo a área plantada. Em uma análise simples, com a alta demanda e a baixa oferta, o produtor poderia exigir um grande valor por cada saca entregue à cooperativa, mas o palestrante explicou que os preços não dependem apenas do valor desejado pelo produtor, é necessário levar em conta a balança da indústria e o quanto ela quer pagar.

Somado a todas essas instabilidades, ainda há uma guerra no leste europeu. Thomasio relembra que a Ucrânia é o 10º maior produtor de milho e na ausência dessa produção o valor de exportação cresceu descontroladamente. O escalonamento dos preços no mercado externo causa uma falsa expectativa no produtor. Segundo Thomasio, essa frustração se dá porque ao plantar o grão, o produtor projeta o preço que ele deseja para sua produção. “O fato é que o mercado é regido pelos mercados interno e externo. Como nossa produção no Rio Grande do Sul é muito pequena, no período de safra há uma distorção na oferta e demanda. Aí vem a frustração do produtor, que não entende como o preço da cooperativa ou da cerealista, onde ele guardou seu produto, não atende às suas expectativas”, preocupou-se o empresário. Para finalizar, o empresário abordou as vantagens do seguro rural para evitar o endividamento.


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