Com preço atrativo dos grãos, cenário traz boas oportunidades para negócios.
A busca por uma maior eficiência na produção de trigo foi uma das soluções apresentadas no Fórum do Trigo 2022, como forma de otimizar os custos de produção da próxima safra, que devem ser quase 50% mais altos em relação ao mesmo período de 2021. O preço atrativo dos grãos gera boas oportunidades de negócios, e a presença do trigo no sistema de desenvolvimento sustentável aumenta a produtividade e diminui o uso de agroquímicos.
O Rio Grande do Sul é atualmente o maior produtor nacional do grão. Tarcísio Minetto, coordenador da Câmara Setorial do Trigo, da SEAPDR (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural) organizadora do evento, não mediu esforços para fortalecer o cultivo. Em 2021, tivemos a maior produção de trigo da história do Estado, com cerca de 3,4 milhões de toneladas. Jorge Lemainski, chefe geral da Embrapa Trigo, ofereceu razões para aumentar a área de cultivo de cereais de inverno.
O trigo gaúcho tem alto potencial para panificação, mas ainda é possível obter maior qualidade com o uso da tecnologia. Essa cultura de inverno também tem ótima aceitação da indústria de alimentação animal. O trigo feed ou forrageiro se enquadra no padrão de exportação, bem como para a produção de etanol, conforme Hamilton Jardim, engenheiro agrônomo da Farsul.
Entretanto, um forte impeditivo para o aumento da área cultivada são os altos preços dos insumos, que têm encarecido muito por conta da guerra que tem epicentro na Rússia, o principal exportador mundial de fertilizantes.
Investimentos melhor empregados
O Brasil tem uma alta demanda de trigo, 11,5 milhões de toneladas, e produzimos apenas metade do necessário. O desafio, segundo Tarcísio Minetto, coordenador da Câmara Setorial do Trigo da SEAPDR e economista da Fecoagro, é realizar o cultivo eficiente do trigo com possibilidade de lucros favoráveis. Minetto acredita que a área cultivada de trigo deve crescer este ano.
A estiagem é a principal causa de quebra de safra e os preços são afetados pelo conflito armado no leste europeu. O custo de produção variou 42,4% no último ano. Desse valor, a maior parte é empregada apenas em fertilizantes, 31,9%. “Diante de um cenário de risco de escassez de fertilizantes, não apenas para o inverno mas também o verão, é preciso aproveitar o efeito residual de fertilidade das últimas safras, otimizar operações e cuidar na escolha da cultivar para que não necessite de muitos manejos fitossanitários”, recomendou Minetto.
O economista reforçou a importância de integrar o trigo ao sistema de produção e não trabalhar como uma cultura isolada. “Hoje trabalhamos com apenas 20% da área da cultura de verão para plantar o trigo, então temos espaço potencial de crescimento. O trigo também pode contribuir para reduzir o custo das outras lavouras”, exemplificou.
Programa Duas Safras
Em sua palestra, o coordenador da Comissão do Trigo das Culturas de Inverno da Farsul, Hamilton Guterres Jardim, explicou os avanços obtidos no Programa Duas Safras. Uma parceria entre Embrapa, Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o programa busca oportunidades para as culturas de inverno como insumo da ração de animal e na implementação de uma segunda safra no Rio Grande do Sul.
Conforme o agrônomo, que também é presidente da Câmara Setorial da Cadeia produtiva de Culturas de Inverno do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), O Brasil ainda é altamente dependente do trigo que vem da Argentina, que junto com o Paraguai, são grandes produtores do Mercosul.
Ele defendeu a necessidade do Brasil ter um plano para auto suficiência em trigo. O Rio Grande do Sul tem a vantagem de produzir mais do que consome, mesmo nas piores safras. “Nosso foco é buscar mercados dentro do Brasil”, planeja Jardim.
Soluções tecnológicas para mitigar os efeitos da estiagem
O chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, reforçou que os cereais de inverno são uma grande oportunidade para o país. Lembrou que no Brasil 68 milhões de hectares são ocupados para a produção de grãos no verão e somente 3,3 milhões são aproveitados no inverno. Na Região Sul, dos 17 milhões de hectares cultivados com grãos, 2,3 milhões são usados para o inverno. O agrônomo explicou que as safras de inverno contribuem para a qualidade do solo, e também evitam danos causados pela estiagem.
“Com genética e bom manejo, trigo dá dinheiro, sim”, disse, destacando a importância de escolher uma cultivar adequada à região de produção, aliada a um manejo eficiente do solo. Ele também confirmou a possibilidade de utilizar os cereais de inverno para suprir as fábricas de ração, reduzindo a dependência do milho na produção de proteína animal e leite. Conforme pesquisa da Embrapa, o triticale pode substituir 100% do milho na ração de suínos e até 88% na ração de aves, sem perda de equivalência, como apresentou Lemainski.
Trigo para panificação
No debate final do evento, Marcelo De Baco, corretor de cereais e cerealista, valorizou a qualidade do trigo produzido no Estado. Conforme Baco, o trigo gaúcho tem proteína acima de 12%, e enquanto se fala em grandes perdas mundiais, não podemos esquecer que estamos perdendo proteína que pode ser usada na panificação. “Eu fiz mais de 20 cursos de panificação, e conheço praticamente todos os moinhos do Estado, e é possível fazer pães maravilhosos com o trigo nacional, especialmente porque nosso trigo tem boa dosagem de proteína”, complementou o cerealista.