Setor deve exercer pressão internacional e mostrar a sustentabilidade da produção brasileira de soja

Importância da conservação de água no solo; análise de produção, mercado e impactos da política econômica no agro; além das expectativas com preço para próxima safra, foram os principais temas abordados no 33º Fórum Nacional da Soja, na Expodireto Cotrijal

Sistemas produtivos que melhoram o solo, tendências do mercado e impactos da política econômica no agronegócio foram temas de debate no 33º Fórum Nacional da Soja, na 23ª Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque. Com o auditório central do parque lotado, especialistas defenderam a importância de armazenamento de água no solo para driblar a estiagem, dentre outras questões fundamentais para o aumento da produtividade e comercialização do grão.

O chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Lima Nepomuceno, tratou do tema Soja Baixo Carbono e Sustentabilidade de Sistemas Produtivos, no qual destacou que o Brasil é uma solução e não um problema para as mudanças climáticas. “As emissões da agricultura brasileira não chegam a 3% do total das emissões do planeta. As grandes emissões são feitas pelos países desenvolvidos na produção de energia à base de queima de carvão e de petróleo. Em torno de 75% das emissões do planeta vêm desses países, que precisam compensar essas emissões. E aí começam a surgir oportunidades como crédito de carbono e mercados específicos”, afirma.

Sustentabilidade na produção brasileira

A Embrapa desenvolve o Programa Soja de Baixo Carbono, que mostra em números a sustentabilidade da agricultura brasileira. A iniciativa está em fase de parametrização, para que sejam criados protocolos viáveis de serem mensurados por certificadoras. “Sabemos que os produtores que desenvolvem práticas de plantio direto, com aumento da fixação biológica de nitrogênio no solo, conservação de água no solo e manejo integrado, aumentam sua produtividade e ajudam a tolerar a seca”, exemplificou o especialista. Para ele, o setor da sojicultura deve exercer pressão internacional e mostrar a sustentabilidade da produção brasileira.

Biotecnologia contra estiagem

Nepomuceno, além de apresentar as estratégias para mitigação de problemas causados pela seca, também frisou que recentemente a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) considerou que a edição no genoma da soja, conduzida pela Embrapa com a técnica CRISPR para desativar alguns fatores antinutricionais, resulta em uma soja convencional, portanto, não transgênica. “Essa aprovação da CTNBio é uma grande conquista, porque ao considerar essa soja como não transgênica, não há necessidade de conduzirmos o processo complexo de desregulamentação comercial de um produto transgênico. Assim, a liberação comercial é mais rápida, reduzindo custos e facilitando a entrada de produtos no mercado com a biossegurança assegurada”, enfatiza Nepomuceno.

Tendências na precificação

O sócio-diretor e consultor em agronegócio na Agrinvest Commodities, Marcos Araújo, falou sobre Panorama Commodities e Tendências do Agronegócio, que chamou atenção dos produtores para a formação de preço da soja.

Com a agricultura globalizada, o Brasil tem concorrentes como Ucrânia, Rússia, China, Argentina e Estados Unidos. Mas, claro, o foco está no país que é o nosso grande mercado consumidor de soja: a China. O país asiático representa 80% da importação da soja brasileira e 60% de toda importação mundial do grão. “Precisamos acompanhar a economia chinesa para ver como vai se comportar o mercado e a expectativa de preços futuros”, afirma Araújo.

Quebra da safra

“Nós tivemos um ano desafiador, infelizmente houve uma quebra da safra gaúcha de sete a oito milhões de toneladas. Na produção argentina, uma quebra superior a 20 milhões em relação às estimativas iniciais. E essa quebra da safra argentina tem dado sustentação, principalmente, ao farelo de soja, que é um ponto de atenção porque a partir de maio a Argentina deve retomar o seu processamento industrial e fornecer para o mercado farelo e óleo de soja - o que poderia comprimir os preços da soja em grão ao longo do segundo semestre de 2023”, projeta.

Autor do livro O segredo do grão - obra completa sobre os mecanismos e estratégias de comercialização de grãos, tanto no mercado interno quanto no externo -, Araújo destaca a importância de avaliar custo de produção, produtividade e preço de venda. “O produtor avaliando esta condição, tem que tomar a decisão de venda, afinal, ano bom é quando tem lucro”.

Mercado reativo

O fórum foi concluído com a palestra do economista do BTG Pactual Álvaro Frasson, que abordou a Análise Macroeconômica e Política e Impactos do Agronegócio. Na conjuntura brasileira, ele cita que a meta da inflação ganha destaque com revisões altistas do PIB para 2023. “Variação de 0,7% para 1,1% é um diagnóstico positivo para a safra 2023. Além disso, desde o início de fevereiro, o Real apresenta performance superior aos pares emergentes, depreciando apenas 3% contra 15% e recuperando a brecha de Janeiro”, analisa Frasson.

Do ponto de vista fiscal, algumas definições estão por acontecer. “Qual vai ser o novo arcabouço fiscal? E a reforma tributária, vai ou não vai andar? O governo está pressionando o Banco Central para reduzir juros. Vai forçar isso através de mudanças de inflação. Mas, será que isso, de fato, é positivo?”, refletiu o economista a respeito das incertezas que esse novo ano trouxe.

Na mesa de abertura: presidente da FecoAgro, Paulo Pires; secretário de Agricultura do RS, Giovani Feltes; presidente da Cotrijal, Nei César Manica; presidente da CCGL, Caio Cezar Vianna e o vice-presidente da Cotrijal, Ênio Schroeder.


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