A importância da rotação de culturas foi o destaque do 12o Fórum Nacional do Milho, realizado no primeiro dia da Expodireto Cotrijal. Engenheiros agrônomos com alto conhecimento técnico mostraram a produtores como o cereal é importante para melhorar a terra, e o governo do Rio Grande do Sul apresentou um programa de incentivo à produção.
Estabilidade para sistemas de produção
A cultura do milho sob o aspecto ambiental e de estabilidade para os sistemas de produção foi o tema do painel apresentado pelo engenheiro agrônomo Jorge Lemainski, chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Trigo.
Lemainski mostrou como o cereal ajuda a hidratar o solo para outras culturas. “A água é essencial em todos os aspectos da vida, e a cultura do milho é fundamental na estruturação do solo para dispor de água às culturas comerciais do agro brasileiro”, declarou.
Segundo o especialista, o problema de adensamento do solo foi detectado em 11 estados brasileiros. Com dados e fotografias, explicou que, se a área plantada não tiver raízes suficientes, a água não será devidamente drenada.
“Segure a água onde cai, por favor, que esta água será necessária para a tua planta, para a estabilidade da produção”, pede, defendendo a intensificação do uso da terra como saída para evitar problemas no solo, mesmo em climas tropical e subtropical.
Economia e otimização
Seguindo a lógica de Lemainski, o engenheiro agrônomo José Ruedell, coordenador de pesquisa da CCGL, também destacou o quanto a rotação de culturas é fundamental para a boa qualidade do solo. “O milho abre muitas portas para outras culturas importantes dentro do sistema de produção”, sustenta.
Ruedell exibiu dados coletados em um estudo feito entre 1985 e 2017, que mostram que a rotação de um terço da área de milho para dois terços da área de soja pode aumentar em uma média de 15% a produção de soja em relação a áreas onde só é feita rotação no inverno, e não no verão. “Significa que esse produtor que pratica isso terá uma safra extra de soja a cada seis ou sete anos”, garante.
Para que o produtor economize, o engenheiro agrônomo sugere a plantação de leguminosas antes do milho.
“Com três, quatro toneladas de massa seca de ervilhaca, podemos ter o equivalente a 150, 200 quilos de ureia para essa cultura, diminuindo o custo de produção e otimizando essa cultura”, sustenta.
Impacto ambiental
A cada ano, o mundo perde 12 milhões de hectares de área cultivável devido a pressões ambientais, conforme dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O alerta é do líder de Negócios Soja e Milho da Syngenta, William Weber. “Em regiões onde não fizeram rotação de cultura, deixou de existir aquela área cultivável. E isso pode acontecer conosco também, se não fizermos. Mudanças climáticas acontecem a todo momento”, alerta.
O milho se torna ainda mais importante nesse contexto devido à expansão das usinas de etanol e ao aumento da exportação do cereal. “No caso do Rio Grande do Sul, a necessidade de autossuficiência do estado é mais um fator”, afirma Weber.
Para auxiliar os produtores, a Syngenta oferece tecnologias na área de defensivos, biocontrole e sementes. O objetivo varia entre tornar o milho mais capaz de suportar ou tolerar a seca ou mais voltado à alimentação de animais, melhorando a produção de leite ou carne.
“Esse é nosso compromisso, como empresa, para suportar esse desafio que a cadeia tem”, declarou.
Pró-Milho RS
O diretor de política agrícola do Rio Grande do Sul, Ivan Bonetti, apresentou o programa Pró-Milho RS, do governo estadual. A iniciativa tem como objetivo tornar o Rio Grande do Sul autossustentável na produção de grãos.
Bonetti lembrou que a demanda por milho no Rio Grande do Sul, que já é alta, aumentará quando o estado for certificado como livre de aftosa sem vacinação.
“O estado apresenta uma produção inferior à demanda. Nós tínhamos uma falta de 1,5 milhão de toneladas por ano, comparando a nossa produção e o nosso consumo. Este ano, em função da seca, vai passar de 2 milhões de toneladas com certeza. Com isso, vamos precisar trazer milho de outros estados”, declarou.
O programa é dividido entre três pilares: aumento da produção e produtividade, melhora da qualidade do produto e estímulo e promoção da comercialização, do crédito e do seguro rural.
O secretário de Agricultura do RS, Covatti Filho, afirma que o programa representará pouco gasto de verba pelo estado. “Não existe muita despesa e o orçamento público em cima desse programa. É um programa de parceria, de ganha-ganha, onde contamos com vários parceiros”, declarou.
Autoridades
O presidente da Assembleia Legislativa e ex-secretário estadual de Agricultura, Ernani Polo, destacou a importância da ampliação da cultura do cereal.
“A expansão da cultura do milho traz dois grandes resultados: a melhoria das condições do solo, que inclusive aumenta a produtividade da própria soja e de outras culturas, nessas áreas em que se faz a plantação, e também os grãos que servem para a alimentação das cadeias da proteína animal”, declarou.
O ex-secretário estadual de Agricultura Odacir Klein, que coordenou o fórum, exaltou a importância do evento. “Tivemos a demonstração científica com técnicos qualificados da importância da rotação de culturas de milho e soja sob pena de termos problemas sérios no futuro”, afirmou.
Também estiveram na mesa das autoridades o vice-presidente do Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Luiz Corrêa Noronha, e o deputado estadual Elton Weber. Os painéis foram apresentados pelo presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho/RS), Ricardo Meneghetti.