Da gestão de custos à qualidade do produto: os desafios da produção leiteira.
Foi-se o tempo em que a produção leiteira consistia em ordenhar as vacas e produzir os derivados de leite. Não há dúvida que, a cada ano que passa, o setor leiteiro evolui. Na mesma proporção, a dificuldade dos produtores tende a aumentar, haja vista a quantidade de dados para analisar e gerir. Nesse contexto, o Fórum Estadual do Leite cresce em importância, pois torna-se um espaço essencial para discussão do setor. A 17ª edição, que marcou a retomada presencial da Expodireto Cotrijal, foi sucesso absoluto entre os participantes.
No gerenciamento de finanças, o caixa é soberano
A melhor forma de superar crises é por meio de gestão. Esse foi o tom da palestra de Matheus Balduino Moreira, médico veterinário da Rehagro. Com o tema “Como fazer a gestão da pecuária de leite superando crises”, ele deixou claro que obter lucro nem sempre é sinônimo de ganhar dinheiro. “Tem muita gente tendo lucro e operando no vermelho”, pondera.
Através de análises, ele demonstrou que uma fazenda pode se tornar mais eficiente e lucrativa com a melhora do manejo e gestão. “Uma gestão eficiente passa pela organização e pelo monitoramento do sistema para que ele alcance os resultados que a gente quer. É entender que grande parte dos problemas advêm do sistema que está errado, não de quem está lá trabalhando. Um bom gestor, sabendo disso, estrutura os processos, indicadores e as pessoas para que o resultado seja alcançado. O caixa é soberano, observe-o. Tem muita gente quebrando a fazenda, mesmo com lucro, porque quebram o caixa”, comenta Moreira.
Para o especialista, a melhor forma de manter o caixa no azul é gerenciar as operações no dia a dia. “Lucro não é caixa. É preciso ter conhecimento de todas as despesas da fazenda. Monitorar a saúde das vacas também é fundamental, pois uma doença pode gerar gastos”, alerta o palestrante. “O impacto econômico da mastite, por exemplo, pode atrapalhar demais, desde os gastos com medicamento até o leite impróprio para consumo”, ensina. O segredo, segundo ele, é organizar e monitorar constantemente. “Entenda, planeje, gerencie indicadores e processos”, finaliza.
Desafios e oportunidades
Paulo do Carmo Martins, professor da Universidade de Juiz de Fora, abordou o tema “Desafios e oportunidades para o setor lácteo”. Martins apresentou algumas tendências para o curto e médio prazo. “O futuro, não temos dúvidas, é promissor, porque a gente está aumentando o consumo de leite per capita e aumentando a eficiência nas propriedades leiteiras. No curto prazo, temos o desafio do produtor conseguir fechar a conta. As margens estão muito estreitas e tem produtor no vermelho”, alerta o professor.
Impacto da economia no agronegócio
Embora a tecnologia ofereça diversas soluções de manejo e gestão na produção de leite, também é preciso observar o cenário econômico. “O custo de produção não é um balizador de preço. O balizador está mais na frente, que é o consumo”, avalia Gustavo Beduschi, diretor executivo da Viva Lácteos, que proferiu a palestra “Desafios do mercado do leite em 2022. Ele apresentou uma pesquisa que aponta a necessidade de maior renda do brasileiro (que consome quase toda a produção) para a elevação do consumo.
“As pesquisas mostram que, se houver um aumento de 10% na renda do brasileiro, o consumo de lácteos crescerá em 5%. Porém a renda média de 70% da população é de R$ 900, que não dá muito poder de compra”, pondera. “É preciso fazer todo o possível para ter boa gestão, uma empresa financeiramente saudável, mas também agir de acordo com essa realidade”, pontua. Beduschi sustenta ainda que este é um ano eleitoral, e que pode modificar muitas coisas em relação à produção.
Aprovação do público
Informação
O produtor Fernando Markmann, de Vitor Graeff, e a esposa Stela Scharlau, compareceram ao fórum na expectativa de ampliar o conhecimento. “Eu costumo vir ao fórum do leite pois sempre busco conhecimento sobre como enfrentar os desafios da produção. Também sempre ganho conhecimento sobre a redução de custos, aprendo bastante”, destaca Markmann.
Conhecimento
Entre os produtores que estavam no fórum, Ricardo e Maiara Neuberger trouxeram para o evento o pequeno Benhur, de quatro meses. A família de Coqueiros do Sul atua há 12 anos na produção leiteira. “Viemos para buscar conhecimento e colocar em prática. Sempre pensamos nos custos e no que vamos investir. Para nós, a atividade leiteira é o carro-chefe na propriedade”, afirma Maiara.
Ricardo, por sua vez, relata que é preciso atuar com cautela para superar os desafios de 2022. “Temos que ir controlando as contas e calculando os custos para dar um drible na seca. Temos que agir com mais cautela este ano”, avaliou o produtor, enquanto embalava o pequeno Benhur no carrinho de bebê. O garoto dormiu sossegado durante o fórum e, no que depender dos pais, terá grande futuro no mundo do leite.
Tendências para esta década