Superação e resiliência marcam o espaço da Agricultura Familiar

Produtores contam com criatividade para atrair público

Em todas as feiras do agronegócio, pelo mundo todo, um dos espaços mais queridos é o da agricultura familiar. Na Expodireto Cotrijal não é diferente. O pavilhão que completou 17 anos nessa edição, chega perto da maioridade com público cativo e lista de espera de agroindústrias que querem expor e vender seus produtos.

Com 192 estandes ocupados por 222 expositores representantes de 133 municípios, o local esteve lotado ao longo de toda a 25ª edição da feira que se estendeu de 10 a 14 de março. Dos expositores, 49 participaram pela primeira vez com expectativa de vendas, mas também de prospecção de novos negócios com pontos de venda e até exportação dos produtos para além das fronteiras do Rio Grande do Sul.

Em 2024, foi registrado faturamento histórico da agricultura familiar na Expodireto com valor de vendas superior a R$ 3 milhões. Em 2025, depois da enchente do ano passado e estiagem nesse ano, o setor optou por não divulgar números finais de vendas com foco na comemoração da resiliência dos produtores para vencer desafios.

Boas histórias

Em 2019, Paulina Slaifer ficou doente. Enquanto cuidava da saúde na Santa Casa de Misericórdia em Porto Alegre idealizou a receita da geleia de cebola, apresentada pela agroindústria da família no ano seguinte na Expodireto. De lá para cá tem sido sempre assim: todo ano eles trazem novidades para o evento. Nessa 25ª edição os sabores de lançamento da Agroindústria Slaifer, de Encantado (RS), são as geleias de pimentão vermelho, pimentão amarelo e tomate defumado. No entanto, o gosto dos produtos lançados pelo casal Paulina e Maciel é para eles o de superação e resiliência. “Na enxurrada do ano passado não entrou água na nossa casa, mas sofremos consequências: perdemos morangos e pimentas porque além da chuva excessiva, tivemos dias muito quentes e a falta de energia elétrica nos impediu de irrigar a plantação. Também perdemos todo o nosso estoque de congelados que ia ser usado para continuarmos produzindo. Essas novas geleias vêm com o espírito de reconstrução”, se emociona a agricultora.

Negócio de família

Depois de fazer um curso de produção de embutidos a família Gedoz, de Carlos Barbosa, lembrou do cheiro do galpão do “nonno” e resolveu buscar a raça do porco Moura, criada pelo avô Emílio Germano Canal, na década de 1940. Com alguns animais, a família começou em 2008 a produção de salames, copas e outros produtos de origem suína. Em 2019, aumentaram o plantel e criaram a agroindústria Zampa Grigia, que na língua italiana significa “pata cinza”. Com um salame desenvolvido com essa carne do suíno que é mais marmorizada e vermelha, a família lançou na 25ª Expodireto um salame com maturação rápida, sem defumação e equilíbrio entre temperos e especiarias. Com mofo externo que garante menos desidratação, consistência mais macia, sabor e aroma ao produto, os Gedoz comemoraram a aceitação da novidade. “As vendas são importantes, mas para nós que viemos pela primeira vez a feira também vale muito para mostrar e divulgar nosso trabalho. É um negócio de família e isso se reflete no carinho com que nosso produto é feito, o que sem dúvida, é percebido pelo consumidor”, afirma Bruno Gedoz da Zampa Grigia Embutidos Artesanais.

De dar água na boca

Com uma criação de 60 vacas que produzem leite tipo A, a propriedade do casal Eloíza e Tadeu Debona destina 40% da produção à agroindústria. São queijos, iogurtes e doce de leite. Além dos produtos tradicionais, o casal que veio pela terceira vez consecutiva à Expodireto Cotrijal, desenvolve a cada ano uma novidade. Para a 25ª edição da feira em Não-Me-Toque eles trouxeram o doce de leite com açaí como lançamento. O laticínio The Intenso, de Soledade, também é um exemplo de coragem e resiliência. Em 2018 na greve dos caminhoneiros, sem conseguir escoar a produção, a família resolveu criar a agroindústria. “Nossos produtos carregam mais do que sabor, carregam história, tradição e o amor pelo que fazemos”, explica Tadeu Debona.

Delicadeza nos detalhes

No corredor do artesanato, o estande quatro misturou a delicadeza do mar com a resistência das plantas suculentas. Os enfeites foram criados por Erenice Bicigo, de Almirante Tamandaré. Dos pendentes em conchas até as guirlandas de Páscoa a artesã e a filha comemoravam as boas vendas na feira. “O público daqui é sempre muito receptivo e o evento muito organizado”, destaca.

Organização

O vice-presidente da Fetag-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul) Eugênio Edevino Zanetti disse que a cada ano a direção da Expodireto se supera. “O evento é um exemplo de organização e planejamento com respeito às agroindústrias e ao público em geral. É muito gratificante participar de um evento que, que além da comercialização, é uma grande vitrine para os produtos”. A expectativa do setor é para que em 2026 o pavilhão possa abrigar ainda mais agroindústrias já que a fila de espera passa de cem inscritos.


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